Museu de Ouro Preto estreia tecnologia nacional para estudar acervo histórico dez vezes mais barata que a importada
12/10/2025
(Foto: Reprodução) Pesquisadores criam equipamento para analisar obras de arte
Professores e pesquisadores do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ) desenvolveram, do zero, um equipamento capaz de escanear e analisar obras de arte com precisão milimétrica.
O robô, fabricado inteiramente no Brasil, custa cerca de R$ 400 mil — valor dez vezes menor que o do modelo importado, adquirido anteriormente pelo instituto por R$ 4 milhões.
O aparelho estreou nesta semana no Museu da Inconfidência, em Ouro Preto, na Região Central de Minas Gerais, onde está sendo utilizado em conjunto com outros equipamentos de análise de acervo. É a primeira vez que o robô é empregado fora do laboratório.
Segundo o coordenador do Laboratório Móvel do IFRJ, Renato Freitas, os dados coletados permitem identificar características importantes das técnicas utilizadas pelos artistas.
“Os resultados que a gente tem ali permitem verificar, por exemplo, se o artista misturou certas tintas. É possível fazer estudos com os dados para entender se essa mistura foi intencional ou não”, explicou Freitas.
O projeto começou a ser desenvolvido em 2019, com a participação de professores, técnicos e alunos do instituto.
“Foi feito 100% dentro do laboratório de uma instituição brasileira, com pesquisadores, técnicos e alunos brasileiros. Há toda uma bagagem científica e tecnológica envolvida para desenvolver um equipamento desse”, destacou o professor André Pimenta, do IFRJ.
Robô produzido por pesquisadores brasileiros estreia no Museu da Inconfidência, em Ouro Preto.
Dandara Mendes/TV Globo
'Ouro Preto imaginada'
A primeira obra analisada pelo robô foi uma pintura de Alberto da Veiga Guignard, que retrata uma Ouro Preto imaginada.
Segundo os pesquisadores, o artista aplicou a tinta diretamente sobre a madeira, sem esboço ou correções, algo identificado a partir de análises com raios X e luz infravermelha.
Além da pintura, os pesquisadores examinaram outras peças do museu, entre elas quatro esculturas de um presépio atribuídas a Aleijadinho, sendo duas articuladas.
“Essa escultura aqui, por exemplo, tem articulações nos ombros e cotovelos. Na radiografia dá para ver que foram colocados pregos para que ela ficasse parada e não se mexesse”, detalhou o técnico Lucas Cotta, do laboratório móvel.
Outra peça estudada foi uma escultura de São Jorge, com mais de dois metros de altura. As radiografias revelaram articulações nos braços e nas pernas, que permitiam posicionar a imagem sobre um cavalo para participar de procissões.
“A princípio, a gente não viu nenhuma descontinuidade na madeira que indicasse uma abertura para colocar o olho por dentro. Estamos criando hipóteses sobre como o vidro foi inserido, possivelmente pela frente, ainda quente, e depois moldado e pintado conforme o autor desejava”, explicou o pesquisador Elicardo Gonçalves, do IFRJ.
Robô é capaz de analisar obras históricas milimetricamente.
Dandara Mendes/TV Globo
Vídeos mais assistidos do g1 MG